crise tricolor

Torcida trava luta contra a diretoria para tentar salvar o Bahia

Ne10
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Publicado em 02/06/2013 às 14:31 | Atualizado em 13/03/2023 às 10:02

Mal começou o Campeonato Brasileiro 2013 e o Esporte Clube Bahia já larga na zona de rebaixamento. Pior, vendo o arquirrival Vitória-BA dormir na liderança após derrotar o Vasco por 2x0 nesse sábado (1º). Com três rodadas, o clube ocupa a 17ª posição com fortes indícios de queda para a Série B no ano que vem. E o mais grave: não é prematuro afirmar isso. O Tricolor de Aço vive uma das piores crises dos 82 anos de existência.

Na temporada 2013, o Bahia coleciona insucessos que atestam o estado crítico: três derrotas no Ba-Vi, sendo duas por goleada - o histórico placar de 5x1 na inauguração da Arena Fonte Nova e 7x3 na primeira partida da final do Campeonato Baiano -, e por consequência, a perda do título estadual, a eliminação precoce no Nordestão, a desclassificação da Copa do Brasil dentro de casa para um inexpressivo Luverdense-MT e a estreia no Brasileirão com uma derrota por 3x0 contra o Criciúma, que acabou de voltar para a primeira divisão.

A crise alcançou um patamar nacional já que, a Revolta das Caxirolas, episódio em que torcedores e membros da organizada Bamor arremessaram dezenas de chocalhos no gramado da Arena, foi preponderante para que o instrumento criado pelo músico Carlinhos Brown para ser a vuvuzela brasileira, esteja praticamente proibido de ser utilizado nos estádios durante a Copa das Confederações e Mundial de 2014.


Jogadores tiveram que retirar caxirolas arremessadas no gramado durante Ba-Vi (Foto: Futebol Bahiano)

Para a maioria da torcida, o culpado pela situação é o presidente do clube, Marcelo Guimarães Filho, cujo pai já havia presidido o tricolor e, coincidentemente, teve uma gestão muito criticada devido ao rebaixamento do time para segunda divisão de 2004 e para a terceirona em 2006. Mesmo diante das pressões, o dirigente que acumula o cargo de deputado federal pelo PMDB, garantiu que não vai renunciar ao posto.

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A insatisfação dos torcedores fez com que Marcelinho ou MGF, como é conhecido, fosse alvo de ataques, no mínimo, criativos. A descrição sobre o dirigente no site Wikipedia foi alterada para "o presidente mais incompetente da história do Bahia" e "um cara que está enriquecendo às custas de um clube e de uma nação de torcedores". Um outro torcedor colocou o presidente à venda no Mercado Livre por R$ 1, logo após a segunda goleada aplicada pelo rival rubro-negro, no mês passado. O 'passe' de MGF continua disponível no site, agora, um pouco mais 'valorizado': R$ 24.

Presidente foi colocado à venda em site por R$ 1 (Foto: reprodução)

Mas a maior mobilização foi articulada por um grupo formado por um empresário e três publicitários. Criado logo após os 5x1 sofrido na inaugaração da que é considerada a casa do Bahia, o Movimento Bahia da Torcida ganhou a adesão da massa tricolor fundamentado em três pilares: democratização do clube, priorizando a opinião do torcedor, reforma do estatuto e dar andamento aos processos judiciais que investigam o Esporte Clube Bahia.

"Queremos que existam possibilidades de revezamento no poder, que o clube seja gerido com competência, transparência e que essa gestão seja sempre avaliada de forma honesta", explicou o publicitário, Williams Vieira, um do fundadores do movimento. Junto com o empresário Sidônio Palmeira, os publicitários Bruno Mollicone e Cássio Melo, e com apoio de advogados e jornalistas tricolores, conseguiram reunir cerca de seis mil torcedores na Fonte Nova, em uma grande manifestação popular em prol da democracia e renúncia imediata de MGF.

Público zero: poucos torcedores assistiram o jogo contra o Luverdense-MT (Foto: Futebol Bahiano)

O mote da campanha é o sentimento de estar amordaçado, como se consideram os torcedores. Dezenas deles enviaram fotos com mordaças para a fanpage do Bahia da Torcida que angariou, em tempo recorde, mais de 11 mil curtidores. Outra mobilização que está sendo levada à risca pela torcida é o público quase zero nos jogos, desde a final no Barradão. Nos bastidores comenta-se que a administração da Arena Fonte Nova está preocupada com essa estratégia pelo impacto financeiro no borderô das partidas.


Tricolores enviam diariamente dezenas de fotos 'amordaçados' para a fanpage do Bahia da Torcida (Foto: Facebook/reprodução)

"Tudo para termos um novo estatuto no clube, que permita a participação do torcedor, que torne o clube uma instituição democrática e, consequentemente, mais forte", garante o publicitário. Entre os adeptos do movimento estão o governador Jaques Wagner (PT) e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), que deixaram de lado as rivalidades políticas e gravaram declarações públicas para o movimento em defesa do Bahia. 

Segundo os fundadores, o Bahia da Torcida não tem nenhum financiador. "Desde o adesivo até o outdoor colado foram cedidos pelas empresas que produziram sem custo, e especialmente torcedores indignados do Bahia", explica.

» Assista os vídeos de ACM Neto e Jaques Wagner apoiano o Bahia da Torcida:


No começo da semana passada, o presidente do Bahia se pronunciou oficialmente sobre todas as denúncias acerca de seu nome. Em carta publicada no site oficial do clube (clique AQUI para ver a íntegra do texto), Marcelo Guimarães Filho atribui a crise apenas aos resultados dentro de campo e garante que a gestão tem feito de tudo pela instituição. "Não posso e não quero negar, nem mesmo atenuar, o momento difícil por que passa o nosso Bahia. A pífia campanha desenvolvida pelo time até agora desencadeou a contrariedade da torcida, que passou a manifestar-se e a pedir mudanças", afirmou.


Presidente garantiu que não vai renunciar ao posto (Foto: divulgação)

Na carta, MGF considera que "as críticas ultrapassaram os limites do futebol", porque vieram de uma parte dos torcedores que tem interesses políticos em relação ao clube. "Nada contra eles, já que é assim que se chega à presidência", sugere. O fundador do movimento rebate as acusações. "Não fizemos o movimento com algum nome para presidir, o objetivo principal é acabar com a oligarquia", justifica Vieira, acrescentando que a indicação de novos nomes para o conselho e diretoria ocorrerá naturalmente com o tempo.

O próximo desafio do Bahia é neste domingo (2), às 18h30, contra o Internacional, no Rio Grande do Sul. A partida é a terceira sob o comando de Cristóvão Borges (ex-Vasco), que também é o terceiro técnico a assumir o Tricolor na temporada, depois de Jorginho, remanescente de 2012, e Joel Santana.