O Santa Cruz deixou o Campinense jogar como quis. Deu espaço no meio de campo e o camisa 10 Bismarck fez o que quis para seu time sair com a vitória por 3x0 nesta quarta-feira (23), pela segunda rodada do grupo D da Copa do Nordeste. Com a derrota e a vitória do CRB sobre o Feirense, o tricolor caiu para a terceira posição. O Feirense é o próximo adversário, sábado (26), no Arruda.
Na véspera do jogo, o técnico Marcelo Martelotte avisou que queria o mesmo padrão de jogo tanto dentro quanto fora de casa. E os jogadores começaram a partida tentando colocar a teoria na prática. Quando tinham a posse da bola, tentativas de poucos toques na bola ou arrancadas dos jogadores mais velozes - Natan, Renatinho e Caça-Rato.
Mas esse estilo teve seu preço. O tricolor é um time que marca bem menos que nos dois últimos anos - a comparação com o estilo Zé Teodoro é inevitável neste início de temporada. Os jogadores corais perdiam a bola no ataque e demoravam para reorganizar o bloqueio. O meio de campo do Campinense tocava a bola com relativa facilidade. Assim, para retomá-la, os pernambucanos tinham que esperar o erro ao invés de forçá-lo.
Os paraibanos foram os primeiros a levar perigo. Aos nove minutos, Tiago Granja cruzou rasteiro e ninguém aproveitou. A bola ficou com Bismarck, que tentou rolar para o meio da área. Anderson Pedra afastou de chutão. A resposta coral veio aos 15, num cruzamento de Natan para Philco cabecear no canto. No meio do caminho, a bola desviou no braço esquerdo de um jogador do Campinense - cujos braços estavam abertos demais - antes de o goleiro espalmar.
Além da dificuldade para retomar a bola, o Santa também mostrou-se uma equipe previsível, já que forçava demais as jogadas pelo lado direito, justamente o setor que não tem um lateral de origem. Everton Sena é zagueiro. O resultado era a migração de quase todos os meio-campistas para o lado direito: Natan e Sandro Manoel. Além de um dos atacantes. Anderson Pedra estava centralizado á frente da zaga e Renatinho abandonado na esquerda, assim como Tiago Costa.
Os rubro-negros paraibanos alternavam bem os dois lados e assim chegaram ao gol, aos 32 minutos. Panda cruzou da esquerda e Tiago Cardoso gritou que ficaria com a bola. Vágner ignorou, ou não ouviu o alerta, e afastou de cabeça. A bola caiu no pé direito de Tiago Granja. De primeira, ele mandou para o gol, completamente desprotegido. Após sofrer o gol, o rendimento dos tricolores despencou. O time passou a usar a bola mais longa e viu o adversário sempre levar vantagem. O Campinense só foi à frente na boa, mas não levou muito perigo.
O Santa Cruz voltou para o segundo tempo com o meia Luciano Sorriso no lugar do atacante Flávio Caça-Rato. Na teoria, uma tentativa de mais criatividade. Na prática, mais espaço para o Campinense. E o castigo nem demorou muito. Aos quatro minutos, num rápido contra-ataque, Bismarck lançou Zé Paulo. Ele foi à linha de fundo e cruzou para Glaybson completar para o gol.
Apesar de ter mais gente no meio de campo, 5x4, os jogadores corais não conseguiam transportar o número para o que se via em campo. Faltava alguém para acompanhar a ida dos meias e volantes ao ataque. Aos oito, Bismarck viu Tiago Cardoso adiantado e arriscou por cobertura. O goleiro voltou em tempo de mandar a escanteio.
Enquanto isso nem mesmo as insistentes jogadas pela direita apareceram. Natan ficou mais recuado para ceder o espaço a Luciano Sorriso. Nem um nem outro davam conta do recado. Philco era apenas um mero espectador. E assim o terceiro gol foi amadurecendo até acontecer aos 14. Bismarck bateu falta pelo lado esquerdo e Edvânio desviou para o gol, sem chance de defesa.
Martelotte tentou recompor o ataque, mas o problema não era o setor e sim o posicionamento. Sem a marcação encaixada, os tricolores eram obrigados a sair correndo atrás dos adversários sempre que perdiam a posse da bola.
Percebendo a deficiência do time pernambucano em recompor sua marcação o Campinense marcava forte apenas em seu campo defensivo. Quando tomava a bola, quem quer que fosse o jogador, o destinatário era sempre Bismarck. E o camisa 10 era acionado livre em todas as oportunidades. Tão acionado que terminou cansando e deixando o campo aos 28 minutos. Um pouco antes, aos 23, ele deixou Jefferson Maranhense em ótimas condições para chutar rasteiro. Tiago Cardoso defendeu parcialmente e Vágner completou, afastando o perigo.
A partir dos 30, o Santa, inconscientemente, entregou-se, um tanto pelo placar, outro tanto pelo cansaço. Se o Campinense forçasse um pouco mais, a colheita seria bem maior. Nos dez minutos finais a torcida já gritava 'olé' a cada troca de passes. Para encerrar o jogo de forma melancólica, a energia foi embora aos 46 minutos e o árbitro resolveu acabar com o sofrimento coral às escuras.
Ficha do jogo:
Campinense: Pantera; Tiago Granja, Roberto Dias, Edvânio e Panda; Dedé, Wellington, Glaybson (Bruno Jesus) e Bismarck (Rafael Cearense); Zé Paulo (Selmir) e Jeferson Maranhense. Técnico: Oliveira Canindé.
Santa Cruz: Tiago Cardoso; Everton Sena, César, Vágner e Tiago Costa; Anderson Pedra, Sandro Manoel (Marquinho), Natan e Renatinho (Paulo César); Philco e Flávio Caça-Rato (Luciano Sorriso). Técnico: Marcelo Martelotte.
Local: Estádio Amigão, em Campina Grande. Árbitro: Mayron dos Reis (MA). Assistentes: Geison Mendes e Carlos André Pereira (MA). Gols: Tiago Granja, aos 32 do primeiro tempo. Glaybson, aos quatro; Edvânio, aos 14 do segundo. Cartões amarelos: Sandro Manoel e Everton Sena.