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Os sete pecados capitais do Santa Cruz

NE10
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Publicado em 30/10/2012 às 21:36
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Uma eliminação como a do Santa Cruz é construída com muito mais do que lances pontuais - entenda-se por pênaltis perdidos, empate no primeiro jogo ou um impedimento erradamente apontado pelo assistente. Esses lances escondem os pecados de um time que, não obstante o título estadual, sempre apresentou problemas desde o início do ano. Padrão de jogo foi algo raro. Um momento de acerto na reta final do Pernambucano, fato que criou o mantra do técnico Zé Teodoro: "Vamos crescer no momento certo"

Mas bem antes disso, o treinador já patinava. Fazia de cada jogo um teste. Por isso foram nada menos do que quatro derrotas apenas no primeiro turno - seriam sete em toda campanha. Acrescente-se a isso uma vergonhosa eliminação da Copa do Brasil frente ao Penarol, do Amazonas. A torcida irritou-se e protestou contra o técnico. Irrita de lá, irrita de cá. Responsável direto pelo estadual do ano anterior e a ascensão à Série C, Zé Teodoro fez beicinho e disse que ia embora se as reclamações continuassem.

A demissão dele chegou a ser cravada. Mas o presidente Antônio Luiz Neto intercedeu e fez valer seu posto de dono da palavra final e segurou o comandante. Sem ser unanimidade na diretoria e na torcida, cada jogo virou tensão. E muito pela contribuição dele, que mudava jogadores de função, trocava seis por meia dúzia e nada de o time evoluir.

O inferno passou a ser os outros: hiato longo até o início da Série C, gramados irregulares, calor no centro-oeste e retranca dos adversários no Arruda. A própria casa, sempre cheia pelos incessantes pedidos do presidente - outro com discurso monotemático - não repetia o desempenho do ano anterior como o mandatário pensava.

Foram pedidos reforços. Alguns vieram viram e, como todos já sabem, não venceram. Mas sequer jogaram. César mal suou a camisa contra o Luverdense. Ramalho só conseguiu suar o uniforme de treino, Victor Hugo e Diego Bispo precisaram apenas dos dedos de uma mão para contar suas intervenções. A quantidade de jogadores chegou a 33. A quantidade de dinheiro para cobrir tantos cheques não foi suficiente e muitos atribuíram a isso o ritmo lento de vários jogos e algumas ausências nas reapresentações.

Acima, o torcedor poderá identificar alguns dos sete pecados capitais cometidos pelo Santa Cruz em todo ano de 2012. A saber: gula, avareza, preguiça, inveja, luxúria, ira e vaidade. Abaixo, todos eles dissecados e com os devidos exemplos.

GULA

Durante todo Campeonato Pernambucano, o técnico Zé Teodoro reclamava que o elenco era enxuto e não tinha muitas opções para preparar variações na equipe. O mais curioso é que o grupo contava com 29 atletas e gente como Renato Camilo (zagueiro), Anderson Maisena (lateral-direito), Éder Túlio (volante) e Paulo Renê (atacante) passou praticamente incólume. Isso sem contar os pouco aproveitados como o volante Sandro Manoel, o meia Jefferson Maranhão e o atacante Carlinhos Bala, este último perdendo espaço para Flávio Recife e Branquinho. No Brasileiro, o grupo aumentou para 33, mas novamente com muitos praticamente apenas treinando: César e Diego Bispo (zagueiros), Ramalho (volante), Victor Hugo (meia). Para completar, o elenco chegou a quatro goleiros: Tiago Cardoso, Diego Lima, Cley e Fred. Tanta gente terminou engasgando o futebol do time.

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AVAREZA

Pecado diretamente derivado do anterior. Os olhos grandes e o bolso vazio. A folha inchou. Segundo informações de bastidores chegou ao patamar de R$ 700 mil, algo completamente fora da realidade de um campeonato como a Terceira Divisão e, consequentemente o Santa Cruz. Os atrasos de salário, que assombraram o clube em gestões anteriores voltaram causar calafrios nos dirigentes. O presidente, sempre que concedia entrevistas, praticamente implorava para o torcedor se associar. Sem sucesso. O mês de agosto foi pago antes do jogo contra o Águia. Agora o clube tem setembro, outubro, novembro, dezembro e o 13º pela frente. E nenhum jogo.

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LUXÚRIA

Antes que alguém pense em algo mais picante feito pelo Santa Cruz neste ano, vale o lembrete que o sentido original da palavra luxúria é 'deixar-se dominar pelas paixões'. E não há exemplo mais hiperbólico de paixão do que o sentimento que une o torcedor tricolor ao Santa Cruz Futebol Clube. Mas o problema foi justamente não saber canalizar essa paixão. O apego ao prazer da vitória cegou. Qualquer erro era censurado. Pior para o presidente, que não via suas súplicas para o torcedor se associar serem atendidas. Criou-se um clima de animosidade entre time e torcida, que terminou por não fazer a diferença nos jogos no Arruda. Foram quatro dos nove jogos em casa sem vencer.

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SOBERBA

Associada à vaidade e arrogância foi a areia movediça tricolor. E novamente, capitaneada pelo técnico. Fosse vitória, empate e, principalmente vitória, o discurso era de exaltação ao próprio time. Até aí nada demais. O problema era que os adversários pareciam ser invisíveis, não treinavam nem estudavam a forma de jogar dos agora bicampeões estaduais. Calcado na campanha do Estadual, o técnico dizia: "Vamos crescer no momento certo". O problema era saber quando tal momento veria a luz do dia. E ele não veio. Enquanto isso, os times que se retrancavam no Arruda somaram seus pontos e seguiram em frente na competição.

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IRA

Quase unanimidade em 2011, Zé Teodoro não teve vida fácil neste ano. Sem os mesmos resultados do passado, o técnico passou a ser questionado pela torcida e pelos dirigentes. O ponto algo dos críticas aconteceu após a eliminação da Copa do Brasil perante o modesto Penarol. Insatisfeitos, os tricolores foram protestar no Arruda. A confusão rolou nas arquibancadas com troca de agressões entre torcedores e os seguranças do clube.

Na Série C, a vida dele também não foi fácil. Além de conviver com os questionamentos, o treinador também teve que controlar o sistema nervoso. O técnico foi até punido com suspensão de dois jogos por se dirigir ao árbitro de maneira exagerada no jogo contra o Treze. Como se isso não bastasse, alguns jogadores da equipe também não tiveram a cabeça no lugar no momentos de tensão. Um deles foi o volante Chicão, que após receber uma cotovelada, agiu de maneira infantil e revidou esfregando sangue no rosto do adversário. O atleta foi expulso e prejudicou o time contra o Fortaleza, quando o Santa vencia por 1x0. No final, veio a derrota por 2x1, em pleno Arruda. O resultado atrapalhou bastante os desejos dos corais na Terceirona.

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INVEJA

Sempre havia uma desculpa para as derrotas ou tropeços do Santa Cruz. O gramado, o calor, as retrancas, entre outros fatores eram apontados como os motivos para a falta de resultados. No Pernambucano, o técnico Zé Teodoro reclamava das equipes defensivas, esquecendo-se de que ele mesmo utilizava esse artifício em 2011. Na Série C, muitas foram as argumentações para os fracassos. Uma muito utilizada foi a paralisação da Série C, apontada pelos corais como um fator decisivo para o baixo rendimento no início do campeonato. A competição passou, mas as desculpas continuaram. Uma hora era o calor de Cuiabá, em outra o gramado de Iguatu, por exemplo.

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PREGUIÇA

A preguiça do Santa Cruz atende pelo nome de Dênis Marques. Não que o atacante fosse preguiçoso em campo durante as partidas. Pelo contrário, o avançado marcou 27 dos 81 gols do Tricolor no ano. O número corresponde a 33,3% do total. No entanto, as estatísticas não justificavam que ele tivesse regalias no elenco. Dênis dificilmente treinava nas apresentações após os jogos. Raros eram os dias pós-partidas em que o Predador aparecia. Sempre era um aniversário ou um cansaço muscular elevado. Antes dos confrontos do Santa, ele quase sempre também ficava ausente. A diretoria o liberava sob a justificativa da "necessidade de descanso".

No fim das contas, o atacante acabou sendo um dos mais cobrados pela torcida justamente pelos muitos direitos tinha. Os tricolores chegaram até a jogar moedas para Dênis Marques no desembarque da equipe no aeroporto depois do último jogo contra o Águia, em Marabá. As mordomias saíram caro para o Predador que caiu de rendimento na reta final da Terceirona assim como todo elenco coral.

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