ARBITRAGEM FIFA

Sem chance de errar no apito

NE10
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Publicado em 19/06/2011 às 12:43
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Como quase tudo no campo profissional, a conquista de uma vaga no quadro de arbitragem da Federação Internacional de Futebol (Fifa) exige uma mistura de sorte, competência e influência. São apenas 10 árbitros e 10 assistentes representando o Brasil na arbitragem internacional. E, para chegar a esse seleto grupo de profissionais dos apitos e bandeirinhas, é preciso provar a cada jogo que tem técnica, condicionamento físico e sangue frio suficientes para representar o País nos gramados internacionais.

O primeiro passo é realizar um curso de arbitragem para se tornar membro do quadro estadual de árbitros e assistentes. No Recife, há um curso para formação de novos árbitros oferecido pela faculdade IBGM. A formação leva dois anos, mas ao fim desse curso você pode ser aproveitado ou não pela Federação Pernambucana de Futebol (FPF). É preciso apitar em jogos amadores ou na Série A2, por exemplo, para começar a ser convocado para jogos do Campeonato Pernambucano. A FPF conta, atualmente, com cerca de 70 árbitros e assistentes. Nem todos fazem parte do quadro nacional.

Para começar ser escalado para competições organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol, os profissionais precisam se destacar em seus estados e, assim, serem indicados para ocupar uma das mais de 500 disponíveis na CBF. A entidade máxima do futebol nacional, por sua vez, mantém um ranking, e é dessa classificação que são escolhidos os árbitros e assistentes para a Fifa.

Há contudo, limite de idade. “Para entrar no quadro da CBF é preciso ter no máximo 35 anos e você pode ficar até o último dia do ano em que completar 45”, explica o bandeirinha Erich Bandeira, único pernambucano que está entre os 20 da Fifa. O tempo é curto e as exigências rigorosas. Assim, o Nordeste conta com apenas mais um representante. Além de Bandeira, somente o baiano Alessandro Matos, também assistente, faz parte do grupo internacional. Os 20 profissionais classificados imediatamente depois no ranking da CBF ganham o status de aspirante à Fifa e, assim, aguardam o surgimento de mais uma vaga no quadro internacional. Os pernambucanos Cláudio Mercante e Nielson Nogueira estão entre os 10 aspirantes a árbitro.

Uma vez que o número de profissionais não aumenta com o tempo, garantir uma vaga entre os 20 melhores do País depende da saída de um dos membros já classificados para a Fifa. Além do fator idade, o desempenho dos árbitros e bandeirinhas em teste realizados pelo menos duas vezes por ano na Granja Comary, no Rio de Janeiro, são fundamentais para garantir a permanência no topo do ranking. Todos os árbitros e assistentes da CBF passam por cursos e avaliações. Dependendo do desempenho nas provas físicas e teóricas eles podem “cair”. O motivo pode ser técnico, mas o profissional também pode terminar se machucando nas provas físicas e “voltar para o banco”. Nesse caso, os que fazem parte do quadro da FIFA não voltam a ser CBF, passam para uma categoria recentemente criada, denominada especial.


“As provas físicas são as que exigem mais, são cada vez mais rigorosas”, conta Erich Bandeira, explicando ainda que, a partir deste ano, haverá um monitoramento dos profissionais via GPS durante as provas. O aparelho será capaz de detalhar o desempenho dos árbitros e assistentes durante os trabalhos realizados, indicando aspectos como frequência cardíaca. Outro atributo indispensável para os árbitros internacionais é fluência em inglês e espanhol.

A preocupação com a qualidade da arbitragem é tanta que cerca de dois meses antes do inicio do Campeonato Brasileiro, a CBF faz uma reavaliação em seus árbitros e assistentes. Também é comum, entretanto, que seja feito uma espécie de teste surpresa durante a competição para não deixar que os profissionais se acomodem. De acordo com Bandeira, as polêmicas e punições locais não são boas para nenhum árbitro, mas, a princípio, não diminuem as chances de ascensão dos profissionais. “Com os recursos que existem hoje em dia, se a CBF assistir e julgar as punições improcedentes, não haverá problemas”, diz Bandeira.

Depois das polêmicas em campo, talvez a maior problemática dos árbitros e assistentes seja a agenda imprevisível. “A rotina é complicada. Quando começa o Brasileiro eu digo que a gente vira um pouco nômade, você não sabe onde vai estar na semana seguinte”, pontua o assistente. Para diminuir essa correria, a CBF está adotando a medida de avisar a escala de arbitragem com uma semana de antecedência para que o árbitro possa se programar melhor até mesmo no trabalho, diferente do que acontecia no Campeonato Pernambucano, em que o prazo era de dois dias, o mínimo exigido pelo Estatuto do Torcedor.

Outra medida que facilita o deslocamento dos árbitros é a parceria CBF tem parceira com a TAM. Dessa forma, junto com o aviso de que o árbitro foi escalado para o jogo já envia um documento com a passagem para o profissional. A Lei Pelé também contribui, garantindo que todo funcionário público, seja ele da esfera municipal, estadual ou federal, tenha suas faltas abonadas quando escalados por um órgão oficial.

O PESO DA TORCIDA - Formado em Educação Física, Erich Bandeira nunca pensou que pudesse ir tão longe pela com a missão de auxiliar os árbitros nas partidas de futebol. “Meu pai era amigo do coronel Rufino e a convivência com ele me despertou o interesse pela profissão. Com 10 anos eu vivia perguntando a ele como era apitar jogos internacionais, etc. Mas foi só na faculdade que comecei a investir”, revela ele que começou a carreira de árbitro em 1993 e em 1994 já fazia parte do quadro da CBF, graças a reestruturação do quadro nacional que levava em conta a idade do profissional a partir daquele ano. Apenas em 2005 entrou para o quadro da FIFA, o qual deixa no final deste ano por ter atingido o limite de idade.

“A questão financeira não pesa porque eu conseguiria tirar a mesma coisa que eu tiro como árbitro se eu desempenhasse qualquer outra função menos desgastante”, garante o assistente, defendendo que é uma ocupação apaixonante apesar de receber tantas vaias e xingamentos em campo. Para ele, a experiência internacional dá a possibilidade de trabalhar com menos pressão, ao mesmo tempo em que conhece a realidade de outros países e suas torcidas.

“É bem mais difícil apitar dentro de casa. Para alguém que vem de fora, a frase ‘Hexa é Luxo’ não significa nada. Já os árbitros locais estão dentro da panela de pressão”, destaca Bandeira. Por isso, ele defende que as semifinais e finais estaduais contem com um árbitro de fora, desde que haja um intercâmbio de profissionais entre as federações. Jogo mais difícil que já apitou? Náutico e Sport, a semifinal nos Aflitos. “Exatamente pela história do jogo”, declara.

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