dia do músico

Obrigatório por lei, ensino de música nas escolas ainda não é realidade

NE10
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Publicado em 22/11/2012 às 0:05
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Nome de maestro já tem: Nelson Ferreira. Mas a realidade da escola estadual localizada na Rua Icarina, no bairro de Engenho Maranguape, em Paulista, não era tão bonita quanto as obras do compositor pernambucano. Tráfico de drogas, abusos sexuais e até assassinatos faziam parte do dia a dia da unidade de ensino batizada com o nome do famoso compositor de frevos.

Porém a música trouxe outro compasso para a rotina dos alunos. Tudo começou há quatro anos, com a implantação de uma banda marcial, orquestrada pelo músico Ricardo do Nascimento, que há seis anos se dedica ao ensino da teoria e prática da música. Além dele, o músico Josué Mendes da Silva levou seus 20 anos de experiência na área para as salas de aula da escola. A dupla faz parte do pequeno quadro de quatro docentes de música da Maestro Nelson Ferreira, sendo todos voluntários.

A música na escola sempre foi vista como uma disciplina de menor importância, principalmente quando comparada a matérias como matemática, português, física, química. No entanto, o ensino dos sons, tons e ritmos não pode mais ser escanteado. Em agosto de 2008, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou a Lei nº 11.769, que prevê a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. A partir desta data, as escolas teriam três anos letivos para se adequar a exigência.

Quatro anos depois, a decisão ainda não virou realidade plena. Enquanto a secretaria de Educação do Estado alega estar tentando se adequar à norma da melhor maneira possível, professores reclamam da falta de estrutura; os gestores questionam a falta concurso para professores formados em música e, no meio disso tudo, os alunos comemoram a oportunidade de poder usufruir do pouco que têm.

Os jovens que escolheram estudar música precisam se adequar à má estrutura das salas de aula

A verdade é que o ensino de música nas escolas tem trazido bons resultados. De acordo com o gestor da Escola Estadual Maestro Nelson Ferreira, Cláudio Costa, o comportamento dos alunos melhorou consideravelmente a partir do momento que eles tiveram acesso às atividades artísticas. 'Os meninos passaram a dizer bom dia, boa tarde, a ser mais críticos e participaivos dentro das atividades da escola', disse o gestor.

Exemplo disso é o aluno do 1º ano do ensino médio, Murilo da Silva, 16 anos, que admite ter sido um aluno mediano, com problemas de concentração e dificuldade de aprendizagem. 'Mudei desde que comecei a me dedicar à música. Hoje minhas notas são melhores, minha concentração é muito melhor e não vejo outro caminho a não ser me dedicar quando sair da escola. Quero ser professor e um grande músico', disse o jovem que, há três anos, estuda a arte de tocar clarinete, um instrumento de sopro.

Os jovens Dayse Luana, Tamires Amanda e Murilo da Silva se dedicam ao aprendizado de seus instrumentos

Os depoimentos reforçam uma teoria defendida pelo secretário de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco (Sintepe), Zélito Passavante. 'Existe uma corrente norte-americana que aponta que o ensino da arte na infância e na adolescência aprimora a lógica e o desenvolvimento dos alunos. Um exemplo disso são as notas musicais que ajudam o desenvolvimento do estudante de matemática', ressaltou o ex-professor de artes.

Orgulhosos com o trabalho feito na escola, os professores Ricardo e Josué exaltam seus resultados na área musical, conquistados em parceria com os alunos da unidade. 'Este ano ficamos em segundo lugar na Copa Pernambucana de Bandas e Fanfarras, e isso já é uma grande vitória para nós', comemorou Ricardo, responsável pela banda marcial da escola.

A banda marcial da escola ficou em segundo lugar de um concurso estadual

Porém, como diz a música, 'nem tudo são flores, nem tudo é amor'. Para o melhor desenvolvimento dessa linguagem artística é necessário uma melhor infraestrutura e, principalmente, distribuição dos instrumentos musicais, além de professores qualificados.

Defendendo-se das críticas, a técnica de ensino médio da Secretaria de Educação, Silvana Moura, explica que a lei prevê que a música deve ser ensinada, o que não significa que deve ser criada uma nova disciplina. 'O que fazemos é melhor dividir a disciplina de artes para que a música seja tão favorecida quanto a dança, as artes plásticas e o teatro, coisa que antes não acontecia.'

Silvana Moura, no entanto, não esconde a dificuldade de encontrar professores qualificados para assumir as turmas de artes. 'Nós qualificamos os professores de história e português, por exemplo, para que eles também possam dar aulas de artes. De qualquer forma, dentro das limitações da formação do professor, o ensino de música já está acontecendo', explicou.

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